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    O FENÔMENO POLÍTICO E SUA AUTONOMIZAÇÃO
 

Para Nina e Tito, amigos e companheiros.

Iraci del Nero da Costa


         No correr da história da humanidade observou-se o crescente confinamento do político em um espaço social cada vez mais restrito. Tal processo foi acompanhado do correlato atrofiamento das funções desempenhadas pelo político e dos âmbitos por ele ocupados.
Muitas das instituições que regem a vida social representam importantes momentos de tal processo, inclusive a emergência do Estado, dos partidos políticos, dos direitos civis e da cidadania. Por sua vez, a transformação da força de trabalho em mercadoria, que tornou possível a constituição do modo de produção capitalista, significou um salto qualitativo nas relações entre o político e o econômico, pois com o nascimento do capitalismo deu-se a autonomização do econômico vis-à-vis o  político. 
Embora estejamos em face de um contínuo processo de atrofia do político, dado o fato de ser ele acompanhado de uma crescente geração de novas instituições desenhadas para albergar funções e atribuições que se foram objetivando – desgarrando-se, assim, da vida social que aparece num primeiro momento como um todo mais ou menos indiferenciado –, a aparência é a de ocorreu uma expansão dos fenômenos políticos. Na verdade, o político deixou de ser o elemento dominante do todo, deixou de "confundir-se" com o todo, para ocupar espaços institucionais concretos e, portanto, mais limitados e restritos, e, por isso mesmo, mais "visíveis" e facilmente identificáveis. Correlatamente, seu "antigo lugar" passa a ser ocupado por novas esferas da vida social que vão adquirindo crescente "liberdade", culminando por autonomizarem-se; isto se dá tanto com a religião (inicialmente sob a forma de magia) como com a vida econômica.
Em termos simples, pode-se pensar num todo inicial relativamente homogêneo no qual se congregavam, há milhares de anos, o político, o econômico e o religioso (sob a forma de magia), todo este que se vai dividir em âmbitos independentes: o político, o econômico, o religioso, as artes e as ciências. A contar de então a amalgamá-los estão, além de um conjunto numeroso de instituições de variado tipo, as distintas ideologias e "visões de mundo" que permeiam toda a vida social.
Aqui, a analogia puramente formal com o fenômeno da concepção cabe plenamente: de um todo aparentemente uno e indiferenciado desenvolvem-se tecidos e órgãos específicos.
A questão ora focada é amplamente conhecida; assim, Georg Lukács, em sua Estética, de maneira clara e elegante mostrou as relações existentes entre as práticas mágicas e seus desdobramentos: as artes, as religiões e as ciências. Como sabido, as práticas mágicas podem ser vistas como um forma de manipulação das forças naturais e sobrenaturais: a determinadas ações assumidas e/ou preparadas pelo mago corresponderá, necessariamente, uma resposta bem definida das divindades ou forças equivalentes. Este caráter necessário afasta a magia da religião, mas a aproxima do mundo da ciência. Na medida em que se abandona a expectativa de uma resposta infalível e é ela deixada ao arbítrio das deidades, tem-se aberto o caminho para o desenvolvimento das religiões. De outra parte, na medida em que o mundo circundante é impregnado por uma visão antropomórfica, conforme se promove sua antropologização, gera-se o caldo cultural no qual florescerão as artes. Já a desantropomorfização e racionalização da realidade levará à emergência do mundo do conhecimento científico. Eis, pois, como, de um elemento inicial, vimos tornarem-se independentes três dos mais relevantes escaninhos da vida humana.
Ademais, como anotado acima, a transformação da força de trabalho em mercadoria propiciou o surgimento do capitalismo tornando possível a diferenciação entre o político e o econômico. Lembre-se aqui que tanto o escravo como o servo têm de ser politicamente reduzidos a tais condições para, então, servir a seus donos e amos, já no modo de produção capitalista todos são proprietários e, portanto, podem ser definidos como "iguais", livres, e detentores dos mesmos direitos; agora a vida econômica resolve-se no âmbito dos mercados, os quais dependem de um único elemento político que é integralmente impessoal: o respeito estrito à propriedade privada. Viabiliza-se, inclusive, a emergência da economia como ciência autônoma.
Conquanto alguns dos processos aqui descritos mostrem-se irreversíveis, tal propriedade não representa uma característica universal do relacionamento existente entre as várias instâncias e âmbitos em foco. Destarte, se não é razoável imaginar o colapso das ciências e das religiões num conjunto novo de práticas mágicas, o mesmo não se pode dizer das futuras interações do político com o econômico. Alguns autores esposam a ideia segundo a qual uma eventual superação do modo de produção capitalista supõe a subsunção do econômico pelo político; assim, a vida econômica perderia sua relativa autonomia e a ciência econômica deixaria de existir como ramo independente do conhecimento e transformar-se-ia numa espécie de "engenharia econômica". Estaríamos em face, pois, da "reabsorção", em nível absolutamente novo e original, do econômico pelo político.
A esta altura parece interessante assinalar que as lutas político-ideológicas desencadeadas pela derrubada do muro de Berlim e pelo desmantelamento do "socialismo real" travaram-se, justamente, em torno do espaço a ser ocupado pela ação política. Apoiados na desarticulação das forças de esquerda, os ideólogos conservadores, respaldados nas teses e práticas neoliberais, procuraram executar um  movimento com duas facetas inter-relacionadas. O momento ideológico, de cunho positivista, viu-se representado pela "naturalização" do econômico, ou seja, a vida econômica passou a ser definida como um fato natural imediatamente determinado pelas "forças de mercado"; o mercado viu-se, assim, erigido em ente natural ao qual cumpre a solução de todos os problemas econômicos. Em face disso impõe-se o momento empírico, qual seja: a subordinação da vida política aos ditames naturalmente emanados do funcionamento automático dos mercados. Aos agentes políticos cumpriria, neste quadro, desempenhar, tão somente, duas tarefas básicas: de um lado afastar da vida econômica qualquer intervenção Estatal, necessariamente vista como algo artificial e distorcedor do curso normal da "natureza", incluindo-se aí, qualquer veleidade de implementação das assim chamadas "políticas compensatórias" e/ou daquelas desenhadas para proteger os menos privilegiados ou destinadas a corrigir inconcebíveis desvirtuamentos impostos pela ação dos mercados; por outro lado, adotar as medidas institucionais que correspondam, estritamente, à plena operacionalidade dos mercados. Ao eleitor caberia, tão só, escolher os mais capazes de executarem essas duas funções de mordomos do capital. A esse respeito parecem-me paradigmáticas as declarações de Philip Bobbitt (professor da Universidade do Texas e do King's College de Londres; ex-membro da direção do Conselho de Segurança Nacional nos governos de George Bush e Bill Clinton) publicadas na Folha de S.Paulo de 16/11/2003: "É ainda muito cedo para dizer, mas, na minha opinião, o Estado-mercado está começando a se desenvolver e os Estados-nação serão totalmente substituídos por ele. O Estado-mercado tem prioridades diferentes do Estado-nação a que estamos acostumados. Em vez de promover o bem-estar da sua população em troca de impostos e ordem, o Estado-mercado será o menos invasivo possível, e seu objetivo será o de promover as maiores oportunidades para os indivíduos se desenvolverem – e a liberdade comercial será apenas uma dessas oportunidades."
Como sabido, os defensores mais ferrenhos do neoliberalismo, em face dos fracassos que se abateram sobre os governantes que se abalançaram a implementar suas políticas, viram-se obrigados a recuo estratégico. Alguns mostram-se desenxavidos e albergam-se em estratégico silêncio, outros procuram o reconfortante aconchego da tese segundo a qual é preciso reconsiderar a validade das velhas políticas compensatórias. 
Segundo parece, o fenômeno político está fadado a enfrentar um grande número de percalços. No século XX não faltaram ditadores totalitários da esquerda e da direita desejosos de eliminá-lo; neste início do XXI, enquanto os esquerdistas recém-convertidos à democracia lutam por mantê-lo vivo, os neoliberais da direita procuraram, sem êxito, sufocá-lo. A nós, aferrados que nos sentimos às utopias humanistas e igualitárias, resta-nos desejar-lhe uma rica, perene e vitoriosa existência.                 





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HEGEL: LEITURAS ALTERNATIVAS

Iraci del Nero da Costa

Neste breve escrito ofereço leituras alternativas para dois temas centrais do pensamento de G. W. F. Hegel. Por um lado, considero as possíveis relações entre Matéria e Razão, por outro, contemplo o relacionamento entre Ser e Conhecer. Apresento um texto condensado e simples cuja intenção básica é meramente didática.


1. MATÉRIA E RAZÃO.

Nós nos encontramos em face de duas posturas ou soluções  alternativas.

1a. Com base em nossa consciência, que a reconhece e chega a conhecê-la mediante o estudo da necessidade, a matéria (que não tem em si nenhum elemento de consciência) chega a tomar conhecimento de sua própria existência. Temos pois: matéria –> consciência tomando conhecimento da necessidade –> a matéria se reconhecendo (com base na consciência) como existente. Neste caso a consciência não se confunde com a matéria, pois representa tão somente a expressão da matéria. Aqui o ser é a matéria, e a razão (consciência) é apenas sua expressão na mente humana. A matéria precede a razão (enquanto consciência), mas é inteiramente regida por leis racionais, e justamente por isso a consciência pode chegar a reconhecer a matéria como o ser. Se optarmos por esta forma de ver o mundo podemos ler  Hegel como se ele fosse um materialista. 
1b. Com base na consciência e nos seus movimentos que vão da aparência à essência, a razão (que num primeiro momento só domina a aparência) chega, com base na crítica dos movimentos (momentos) da consciência, a reconhecer-se como o ser absoluto (vale dizer, absolutamente indeterminado, ou absolutamente determinado por si mesmo). Em outros termos: a razão, criticando os momentos da consciência, se reconhece como a única entidade existente (se reconhece como o ser). Se optarmos por esta forma de pensar o mundo temos de ler Hegel como um idealista, e neste caso estaremos mais próximos do que Hegel pensava de sua própria filosofia. Mas, como anotado abaixo, Hegel "enganou-se" sobre os fundamentos de sua filosofia, a qual, no entanto, pode ser tomada como básica para entendermos o movimento do pensamento (do saber, ou do espírito, se quisermos usar termos paralelos).
 

2. IDENTIDADE ENTRE O SER E O CONHECER.

Para Hegel, o ser é a razão, pois foi a ela que ele chegou observando o que se coloca à nossa volta.
Há duas maneiras de interpretar tal afirmação de Hegel.
2a. Uma idealista, o ser confunde-se com o saber, assim, o subjetivo (saber) iguala-se "ao que haveria fora da consciência" (ser, ou razão); a matéria se esvai e só resta o espírito. Esta é uma maneira de interpretar a afirmação de Hegel segundo a qual o saber se identifica com o ser.
2b. A outra maneira supõe que o ser não se iguala à razão, mas esta última é a expressão, em nosso pensamento, do ser. Nesse sentido o ser não se confunde com o que "existe materialmente", mas o que existe materialmente é "regido" pela razão, não pode fugir à "razão", daí, para Hegel, a razão definir-se como o "ser". Poderíamos dizer que Hegel não considerou que para ser possível chegar-se homem pensante, o universo material que o contém teria de ser estável de sorte a propiciar, com o passar do tempo, a emergência de uma entidade capaz de pensar. Ora, um universo estável tem de estar sujeito a leis rígidas (caso contrário, tornar-se-ia instável, presa do aleatório); destarte, tem de se submeter ao que podemos chamar de lógica estrita, ou razão. Ele viu a "razão" que rege o material e a tomou como o "ser", não percebendo que a matéria é "racional", não podendo ser "substituída" pela razão, a qual, efetivamente, pode ser confundida com o saber. Ademais, pode-se dizer que a "razão" deriva de leis de caráter material (leis que se assentam no material); assim, tais leis (que em conjunto podem ser tomadas como a razão) são uma expressão do material, mas não se confunde (não se iguala) ao material. 
Esta segunda interpretação nos permite ler Hegel como um materialista e não como um idealista (o que, tudo indica, pretendeu ser).
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NOTA SOBRE O LAMENTÁVEL ESTADO DO ENSINO BÁSICO NO BRASIL




Para Tito, amigo dileto.
Iraci del Nero da Costa

Os dirigentes do penúltimo governo ditatorial brasileiro do século passado –  Governo Geisel, 1974-1979 – tomaram como perenes as conjunturas interna e mundial então vigentes as quais se mostravam plenamente favoráveis ao crescimento econômico do país. Achavam, pois, que o desenvolvimento na nação não conheceria solução de continuidade e dar-se-ia, irreversivelmente, segundo taxas elevadas: abriam-se, enfim, as portas para a afirmação de um Brasil Potência. Calcados em tal perspectiva resolveram generalizar alguns serviços públicos até então restritos a parcela relativamente modesta da população nacional.

Nesse quadro, ao qual se seguiram vários lustros de profunda crise econômica, deu-se a universalização dos serviços de saúde, de segurança bem como do ensino de primeiro e segundo graus – correspondentes nos dias correntes aos ensinos fundamental e médio. Tal generalização, no entanto, além de ser largamente afetada pela aludida crise, não foi acompanhada, na área do ensino, de uma política consistente de formação e valorização do professorado. Ademais, faltou, igualmente, a preocupação com a instituição de uma política salarial digna e estimulante assim como a implantação de um programa visando ao estabelecimento de uma infraestrutura apta a garantir aos professores os meios mais adequados e eficientes para a transmissão do conhecimento. Ocorreu, também, a emergência de muitas Universidades, Centros Universitários e Faculdades particulares cujo nível deixa muito a desejar; incapazes, portanto de proporcionar a formação de professores qualificados o bastante para desempenharem suas tarefas com um grau aceitável de proficiência.

A consequência da conjugação de tais fatores materializou-se na deterioração do ensino e na flagrante queda de rendimento do alunato quando comparado com o desempenho dos alunos das escolas públicas do meado do século passado, as quais, embora albergassem um número relativamente pequeno de estudantes, mostravam-se as melhores do país e, em termos genéricos, pudessem ser definidas como excelentes; como sabido, a perspectiva imediata de seus alunos era a de prosseguir sua formação em uma das faculdades ou universidades públicas ou privadas então existentes.   

Ao panorama sombrio delineado acima somou-se a pressão sobre os professores, os quais se viram obrigados a ocupar-se com um número maior de alunos e de aulas.

Por fim, a aprofundar a crise aberta na qual submergia nosso aprendizado, adotou-se, em larga escala, a prática da progressão continuada, a qual só se revela eficiente caso se possa contar com um professorado bem preparado, distinguido por condigna valorização salarial e ao qual se propicie um apoio logístico, em termos físicos, humanos e didáticos, capaz de dar sustentação a um ensino de alto nível.

Infelizmente, como sabido, não é este o caso do Brasil; destarte, a implementação da progressão continuada revelou-se uma verdadeira política de aprovação automática a qual, além de reforçar a degeneração do ensino, ocasionou uma aguda piora do relacionamento entre alunos e professores, vendo-se, estes últimos, desrespeitados e desafiados por uma parcela substantiva de seus discípulos, os quais não os têm como adultos culturalmente superiores, mas como profissionais desqualificados e derrotados econômica e socialmente. Tal postura acarreta, continuamente, casos de confronto verbal e físico entre alunos e seus mestres.

Por seu turno, as autoridades responsáveis pelo ensino mostram-se omissas e inoperantes, como que inteiramente dominadas pelo tamanho incomensurável dos problemas com os quais se deparam.



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APONTAMENTOS SOBRE O EVOLVER DA
DEMOGRAFIA HISTÓRICA NO BRASIL*


Para Tito, um amigo que partiu cedo.

Iraci del Nero da Costa



             No correr das últimas quatro décadas nosso conhecimento sobre a história do Brasil viu-se expressivamente enriquecido. Tal desenvolvimento não decorreu apenas da incorporação de novos temas e abordagens, mas, sobretudo, da incorporação desses novos elementos num quadro de revisão das interpretações historiográficas preexistentes, de sorte a dar-se uma efetiva superação de nossos conhecimentos sobre a evolução da sociedade brasileira. Superação esta que ocorreu, pois, no âmbito de avanços articulados e integrados nos planos teórico, metodológico e empírico.

           Não se trata ainda, diga-se desde logo, do estabelecimento de uma nova perspectiva global, de um novo "paradigma";  não obstante, estamos a vivenciar um processo harmônico e organicamente estruturado do qual, certamente, resultará uma visão original e mais rica de nossa formação histórica, a qual, certamente, mostrar-se-á capaz de qualificar e enriquecer interpretações clássicas tais como as propostas por Sérgio Buarque de Holanda, Caio Prado Júnior, Celso Furtado e outros construtores de primeira linha de nossa história social e econômica.

            Dentre as novas contribuições para o processo acima delineado ressalta, como da maior importância, a emergência e o amadurecimento dos estudos desenvolvidos na área da demografia histórica; assim, esse campo distingue-se como um dos mais destacados propulsores das renovações aqui lembradas. Com respeito a tal assertiva talvez seja elucidativo atentarmos, embora em termos meramente informativos e genéricos, para o próprio nascimento e afirmação da pesquisa em demografia histórica no Brasil.

Entre os predecessores da demografia histórica podemos apontar Gilberto Freyre que, no prefácio de Casa Grande & Senzala – escrito em Lisboa, em 1931, e revisto em Pernambuco, em 1933 –, já registrava com clareza a relevância da massa documental da qual se serviram, duas décadas depois, os autores aos quais devemos a formulação dos métodos que deram nascimento à demografia histórica. A compreensão acurada das potencialidades carregadas, sobretudo pela documentação eclesiástica, justifica a longa citação extraída do aludido prefácio:
"Outros documentos auxiliam o estudioso da história íntima da família brasileira: inventários (...); cartas de sesmaria, testamentos, correspondências da Corte e ordens reais (...); pastorais e relatórios de bispos (...); atas de sessões de Ordens Terceiras, confrarias, santas casas (...), Documentos Interessantes para a História e Costumes de São Paulo, de que tanto se tem servido Afonso de E. Taunay para os seus notáveis estudos sobre a vida colonial em São Paulo; as Atas e o Registro Geral da Câmara de São Paulo; os livros de assentos de batismo, óbitos e casamentos de livres e escravos e os de rol de famílias e autos de processos matrimoniais que se conservam em arquivos eclesiásticos; os estudos de genealogia (...); relatórios de juntas de higiene, documentos parlamentares, estudos e teses médicas, inclusive as de doutoramento nas Faculdades do Rio de Janeiro e da Bahia; documentos publicados pelo Arquivo Nacional, pela Biblioteca Nacional, pelo Instituto Histórico Brasileiro, na sua Revista, e pelos Institutos de São Paulo, Pernambuco e da Bahia. Tive a fortuna de conseguir não só várias cartas do arquivo da família Paranhos, (...) como o acesso a importante arquivo de família, (...) o do engenho Noruega, que pertenceu por longos anos ao capitão-mor Manuel Tomé de Jesus (...). Seria para desejar que esses restos de velhos arquivos particulares fossem recolhidos às bibliotecas ou aos museus, e que os eclesiásticos e das Ordens Terceiras fossem convenientemente catalogados. Vários documentos que permanecem em mss. nesses arquivos e bibliotecas devem quanto antes ser publicados. É pena – seja-me lícito observar de passagem – que algumas revistas de História dediquem páginas e páginas à publicação de discursos patrióticos e de crônicas literárias; quando tanta matéria de interesse rigorosamente histórico permanece desconhecida ou de acesso difícil para os estudiosos."

           Também a anteceder a afirmação da demografia histórica como disciplina autônoma, coloca-se a monografia de Lucila Herrmann denominada Evolução e estrutura social de Guaratinguetá num período de trezentos anos, datada de fins da década de 1940. Este empreendimento pioneiro – calcado, basicamente, em levantamentos populacionais realizados no período colonial – ficou isolado, não conheceu divulgação imediata e não se viu seguido, de pronto, por produções similares.
A década de 1960 vai conhecer os ensaios pioneiros de Luis Lisanti Filho e Maria Luiza Marcílio, cabendo a esta última a autoria da tese intitulada La ville de São Paulo, peuplement et population (1750-1850) d'après les registres paroissiaux et les recensements anciens‚ texto seminal do qual resultou o reconhecimento, em escala internacional e, sobretudo, em âmbito nacional, da demografia histórica brasileira; dá-se, a contar de sua edição em português, a difusão entre nós dos métodos propostos pelos cientistas franceses criadores deste novo ramo do saber demográfico situado no amplo campo das ciências sociais. Não é exagero dizer que La ville de São Paulo assinalou o surgimento efetivo da demografia histórica no Brasil.
 Ainda nesses momentos iniciais do desenvolvimento da nova disciplina entre nós vêm à luz as obras de Altiva Pilatti Balhana e de Cecília Maria Westphalen, às quais se seguiram as dissertações elaboradas pelo "grupo" do Paraná; em sua Universidade Federal estruturou-se a pós-graduação em demografia histórica da qual resultou a detecção e ordenamento sistemático das fontes paranaenses e uma grande quantidade de pesquisas: a maior concentração existente até os anos 1990. Pela primeira vez, demógrafos historiadores colocaram em xeque a "família extensa" e afirmaram a predominância, entre nós, da família nuclear (formada, tão só, por progenitores e seus filhos). Ali também nasce a descrição sistemática das comunidades de imigrantes, dando-se, concomitantemente, o espraiamento da exploração demográfica a qual não se restringiu apenas a comunidades paranaenses, pois abrangeu localidades situadas em Santa Catarina, no Rio Grande do Sul e em Minas Gerais.
O decênio de 1970 ver-se-á irrigado por substancial volume de contestações inovadoras votadas a distintas problemáticas e cobrindo novas áreas do território brasileiro. Luiz R. B. Mott volta-se para o Nordeste (Piauí e Sergipe); a ele creditamos o fato de haver questionado abertamente algumas alegações até então tidas como "verdades" inquestionáveis, pensamos aqui no numeroso contingente de pequenos proprietários de cativos, na existência da escravidão na área dominada pela pecuária no Nordeste e na questão do absenteísmo dos proprietários de gado de tal região. Dessa mesma década são as perquirições de Katia M. de Queirós Mattoso e de Stuart B. Schwartz para a Bahia; a monografia de Johildo Lopes de Athayde para Salvador; os frutos dos doutorados de Pedro Carvalho de Mello e de Robert W. Slenes, os quais devotaram particular cuidado à massa de escrava existente no Brasil; tocando a Herbert S. Klein ocupar-se do tráfico negreiro intercontinental. A preocupação com as populações mineiras e a ênfase emprestada aos distintos segmentos populacionais característicos da sociedade colonial brasileira (livres, forros e escravos) marcam as publicações de Donald Ramos e Iraci Costa; já a estrutura de posse dos cativos e a relevância dos "pequenos escravistas" consubstanciam o interesse maior de um pioneiro desses tópicos: Francisco V. Luna, que escrutinou os dados de Minas Gerais. Stuart B. Schwartz, por seu turno, buscou caracterizar a estrutura de posse de escravos existentes na Bahia. A relevância deste assunto levou Francisco V. Luna e Iraci Costa a estendê-lo às áreas de São Paulo e do Paraná.
       Igualmente na década de 1970, os agregados e a família mereceram tratamento especial de Eni de Mesquita Samara – que se ocupou dos agregados e estendeu para a família paulista os resultados concernentes ao Paraná e a Minas Gerais –, de Elizabeth Anne Kuznesof e de Alida Christine Metcalf.
Ao fim do decênio de 1970 e início do seguinte deu-se a extensão dos olhares dos demógrafos historiadores para regiões que permaneciam inexploradas assim como se aplicaram novas abordagens para captar o evolver populacional das áreas contempladas anteriormente. O rol de especialistas, embora longo, não pode ser descurado: Norte (Ciro Flamarion Santana Cardoso); Paraíba (Elza Régis de Oliveira, Diana Soares de Galliza); Goiás (Eurípedes Antônio Funes, Maria de Souza França); Rio de Janeiro (Eulália Maria Lahmeyer Lobo). Clotilde A. Paiva e Beatriz Ricardina de Magalhães versaram sobre Minas Gerais; Horacio Gutiérrez dedicou-se de modo inovador ao Paraná; Maria Nely dos Santos discorreu sobre Sergipe enquanto o Piauí recebeu a atenção de Miridan Brito Knox. Na década de 1980 Elizabeth Darwiche Rabello, Carlos de Almeida Prado Bacellar e Ana Sílvia Volpi Scott empenharam-se em deslindar as distintas facetas das elites paulistas. Nessa última década retomou-se, com base numa perspectiva renovada, em nível qualitativo superior e em termos quantitativos mais sofisticados, a linha aberta por Lucila Herrmann; qual seja, a de se escrever, emprestando-se preeminência aos elementos demográficos e econômicos, a história regional, quase sempre relegada a uns poucos abnegados sem formação acadêmica sofisticada. Em linha científica refinada enquadram-se o projeto de esquadrinhamento sistemático da evolução demoeconômica de Campinas, de Peter L. Eisenberg, os escritos sobre a Bahia de Stuart B. Schwartz e o paradigmático Caiçara, de Maria Luiza Marcílio
A família escrava passa a ser reconhecida no segundo lustro dos anos 1970 e no correr do decênio de 1980. O trabalho de Richard Graham distingue-se como pioneiro. Segue-se artigo de Francisco V. Luna & Iraci Costa  sobre a família escrava em Vila Rica. Logo após veio a lume a importantíssima publicação de Robert W. Slenes sobre a família escrava em Campinas. A partir daí surgem muitos novos ensaios produzidos por Iraci Costa & Horacio Gutiérrez, Alida Christine Metcalf, Iraci Costa & Robert W. Slenes & Stuart B. Schwartz, Gilberto Guerzoni Filho & Luiz Roberto Netto, João Luís R. Fragoso & Manolo G. Florentino, José Flávio Motta, Iraci Costa & Nelson Nozoe, Francisco V. Luna, Ana Sílvia Volpi Scott & Carlos de Almeida Prado Bacellar; neste quadro coloca-se, também, a exposição sobre casamentos mistos devida a Eliana Maria Réa Goldschmidt. 
Nessa mesma quadra de 1980 elaboraram-se novas indagações centradas na família. Maria Sílvia C. Beozzo Bassanezi privilegia a família de colonos do café; Lucila Reis Brioschi disseca genealogias; José Luiz de Freitas contesta o "mito" da família extensa; Katia M. de Queirós Mattoso estuda a família baiana e chega a conclusões análogas às válidas para Minas Gerais, São Paulo e Paraná; Renato Pinto Venancio discute a fundo a questão dos enjeitados; Maria Beatriz Nizza da Silva discorre sobre o sistema de casamentos no Brasil colonial enquanto Linda Lewin dedica tese a este último objeto.
No início dos anos 90 vários projetos estavam em andamento. Alguns itens originais foram propostos (reconhecimento demoeconômico dos não-proprietários de escravos, Iraci Costa; movimentos migratórios de nordestinos, Nelson Nozoe & Eni de Mesquita Samara & Maria Sílvia C. Beozzo Bassanezi; crescimento vegetativo da massa escrava, Horacio Gutiérrez & Clotilde A. Paiva; preço de escravos, Nilce Rodrigues Parreira) e novas áreas são incorporadas (entre outras: Sorocaba, Carlos de Almeida Prado Bacellar; Bananal, José Flávio Motta e Litoral Norte de São Paulo, Ramón V. G. Fernández). Correlatamente, define-se a preocupação com os rumos da demografia histórica brasileira: quais os objetos a enfocar?; não se mostram necessárias tentativas de generalização e de teorização mais consequentes?; como incorporar a nossas indagações áreas e/ou fases cruciais de nossa economia (nordeste açucareiro, zona do café para o segundo meado do século XIX etc.)? 
Nem sempre foi possível, neste texto, seguir estritamente a perspectiva cronológica, pois alguns tópicos viram-se concebidos simultaneamente e/ou interpenetraram-se no tempo. De outra parte, algumas criações das mais expressivas precisam ser "encaixadas" na revisão histórica aqui esboçada, tomo como exemplos a classificação dos setores e ramos de atividades econômicas (de Iraci Costa e Nelson Nozoe), o trabalho de Tarcísio do Rego Quirino sobre os habitantes do Brasil no fim do século XVI, a pesquisa de Carlos Roberto A. dos Santos sobre preços de escravos no Paraná e a obra intitulada Slave life in Rio de Janeiro, 1808-1850, de Mary C. Karash. Enfim, muito poderia ser acrescentado ao elenco aqui arrolado; de outra parte, cumpre lembrar que o encerramos no início dos anos 1990 porque ir avante seria temeroso, pois nos lustros mais recentes procedeu-se à feitura de milhares de dissertações, teses, livros e artigos sobre nossa história demográfica.
Assim, conquanto a descrição acima posta seja sucinta e parcial, parece-nos bastante para revelar o amplo campo abrangido pela demografia histórica e o fato de que se deu no Brasil um verdadeiro transbordamento com relação aos temas estritamente demográficos, vale dizer, por haver grandes lacunas quanto ao conhecimento mais pormenorizado de nosso passado histórico, os demógrafos historiadores brasileiros sentiram-se impelidos a descobrir (redescobrir) e a reescrever (escrever) nossa história econômica, social, das mentalidades, das instituições etc.; destarte, o exame de variáveis demográficas definiu-se como uma larga porta de entrada para a história entendida em todas suas dimensões. Note-se, além disso, que a inexistência, entre nós, de uma história regional solidamente embasada, tem feito com que alguns demógrafos historiadores tomem como sua a tarefa de promovê-la. 
 Muito embora, como visto, nossos demógrafos historiadores tenham estendido seus estudos no espaço, no tempo e no que tange à vasta temática abarcada por nossa disciplina, ainda nos defrontamos com um longo caminho a percorrer nas três dimensões ora aventadas. Assim, existem áreas geográficas pouco estudadas, sobretudo o norte e o nordeste; o século XVI ainda nos escapa bem como o conhecimento mais circunstanciado da segunda metade do século XIX; muitos temas até agora não mereceram nossa atenção e carecemos de perquirições voltadas para a generalização dos achados já revelados. Destarte, não é errôneo afirmar-se que teremos de formular padrões capazes de lançar luz sobre as evidências pontuais já levantadas, seremos compelidos a buscar as regularidades ainda não desveladas assim como caber-nos-á tentar discriminar claramente as causas comuns que se encontram nas raízes dos elementos empíricos já fixados; enfim, até os dias correntes não chegamos a uma visão teórica de conjunto da formação de nossas populações.
Eis, pois, esboçados de maneira concisa – sempre lembrada a limitação e ignorância do autor – os momentos iniciais do desenvolvimento da demografia histórica entre nós. 
Por fim, lembrando que não dirigimos nossa atenção para este ou aquele autor ou para esta ou aquela linha de pesquisa, mas para toda uma geração de demógrafos historiadores, é preciso alertar que alguns temas e muitos autores foram esquecidos nestes apontamentos, fixar u'a memória mais fidedigna deve ser tarefa coletiva, pois o autor isolado pode encaminhar-se para questões que lhe afetam mais de perto e/ou privilegiar colegas e/ou temas que lhe são mais familiares. Desde já, pois, peço escusas pelas impropriedades aqui cometidas, pelas omissões "indesculpáveis" e pelas assim chamadas "injustiças".
         
NOTA
* Este texto baseia-se, largamente, em dois escritos de minha autoria, numa apostila escrita em 1989 – Apontamentos para a história da demografia histórica no Brasil -- e na abertura do artigo intitulado Contribuições da demografia histórica para o conhecimento da mobilidade socioeconômica e geográfica: uma aproximação ao tema, publicado na Revista História (São Paulo). Campi Assis/Franca, UNESP, v. 30, n. 2, p. 381-400, ago/dez 2011.
           
             
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Para Tito, amigo inesquecível.
Iraci del Nero da Costa
                 
                              
                           
1. Localização de documentos de caráter censitário, como são os levantamentos populacionais existentes, por exemplo, em São Paulo, Minas Gerais e Bahia. Muitos desses documentos não "chegaram a chegar" aos Arquivo Estaduais, encontram-se em arquivos municipais, inclusive nos das Câmaras Municipais e em Arquivos Judiciais. Alguns podem estar, até mesmo, em mãos de particulares.
               
2. Preservação e reprodução digitalizada dos documentos com o aludido caráter que se encontram depositados em Arquivos Estaduais e Municipais.
                           
3. Especial atenção deve ser dada às regiões Norte e, sobretudo, Nordeste. Não só contamos com poucas informações sobre tal documentação, mas, como sabido, as condições climáticas dessas regiões são adversas com respeito à conservação documental, fato este que impõe sua rápida localização e apurada preservação.
                                  
4. Por fim, devemos desenvolver esforços no sentido de estimular as pesquisas demográficas tanto no Nordeste como no Centro-Oeste; evidentemente, dada sua relevância socioeconômica, o Nordeste deve ser privilegiado neste esforço conjunto.
                             
5. Para cumprir parcela substantiva de tal programa é crucial a união de esforços de demógrafos historiadores com nossos colegas arquivistas e arquivologistas. Assim, devemos nos apoiar, inicialmente, nos colegas com experiência altamente positiva na direção de Arquivos Públicos Estaduais (como Carlos Bacellar e Renato Pinto Venancio), bem como na ARQ-SP - Associação de Arquivista de São Paulo (Ana Maria de Almeida Camargo e Heloísa Liberalli Bellotto) e na AAB - Associação dos Arquivistas Brasileiros. Tais contatos poderão ser feitos sob a égide da ABEP e da ANPUH. Colegas com conhecimento de arquivos de outros Estados ou Judiciais, como Nelson Nozoe, Agnaldo Valentin, Renato Leite Marcondes e Maria Sílvia C. Beozzo Bassanezi, certamente estarão dispostos a contribuir para a consecução de alguns dos objetivos explicitados nesta sugestão.
                               
6. Ainda com apoio da ANPUH e da ABEP poder-se-ia promover um encontro de demógrafos historiadores votados aos estudos do Nordeste. Tal encontro poderia dar-se na Fundação Joaquim Nabuco a qual conta com infraestrutura exemplar para receber dezenas de pesquisadores. Nessa reunião discutir-se-ia não só as medidas necessárias ao amplo desenvolvimento de pesquisas na região, mas também as que visariam à localização dos documentos de caráter censitário.
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UMA DAS RAÍZES DO MUNDO DA MERA APARÊNCIA



Para Tito, amigo inesquecível.


Iraci del Nero da Costa
São Paulo, 20 de junho de 2011



Ao que parece, de maneira inconsciente, porém com elevado grau de inconsequência, Orson Welles ao realizar sua teatralização radiofônica de A Guerra dos Mundos, em 1938, estabeleceu o marco inicial da era em que ainda nos encontramos imersos, qual seja, a do espetáculo dominado pela mera aparência e pelo execrável culto narcisístico que perverte parcela substantiva da humanidade – conspurcando as distintas formas de expressão de que nos servimos no largo espectro que vai da arte à vida política –, atingindo, especialmente, solitários seres anódinos perdidos em seu anonimato do qual procuram fugir buscando a "celebridade" segundo métodos que percorrem o amplo caminho cujo nascedouro repousa nas mais diversas atitudes grotescas e cujo ponto final distingue-se pela dramaticidade envolvida nos recorrentes suicídios, os quais, por via de regra, veem-se conjugados ao assassinato de uma ou mais pessoas.

Como se pode concluir, não houve demonstração alguma de uma refinada inteligência nessa famigerada transmissão ocorrida num momento em que a radiofonia distinguia-se como o principal meio de difusão das notícias em tempo real; tratou-se, tão somente, de um mal pensado engodo pespegado em uma população desprevenida e crédula a qual, sentindo-se desprotegida, foi presa de imenso pavor em decorrência do qual algumas pessoas, cujo desespero tornou-se incontrolável, foram levadas ao suicídio. O autor da encenação, não obstante, tornou-se muito mais conhecido do que já o era, passou a integrar a galeria das personalidades famosas e foi tratado por muitos cronistas como detentor de uma inconteste genialidade.1

Emergiu, assim, um período caracterizado pela total ausência de princípios e despido de objetivos dignos; depois de sua consolidação nos vemos cercados por individualistas ávidos por alcançar o ganho fácil ou que almejam, tão só, "aparecer" a qualquer custo. Com essa busca desvairada pelos decantados quinze minutos de fama perdeu-se o norte e ganhou-se o nada.

A projeção desse desprezível mundo novo no meio universitário viu-se consubstanciada nos conhecidos episódios de plágio, na falsificação e distorção de dados e, em especial, na asquerosa prática da usurpação do esforço despendido por orientandos engajados nos programas de mestrado e de doutorado.2 Em muitas de nossas instituições de ensino, tal apropriação indevida foi consagrada como obrigatória pela própria burocracia universitária, a qual, cinicamente, a justifica alegando ser ela um meio eficaz de se garantir a qualidade dos estudos desenvolvidos pelos ditos estudantes.3 Assim, amiudadas vezes deparamo-nos com artigos e comunicações científicas encimados pelos nomes de seus reais, efetivos e únicos elaboradores acompanhados pelos nomes de seus orientadores os quais, em muitos casos, mais grotescos ainda, veem-se seguidos pelos de vários outros coautores.4

Esta é a regra, dizem mestres e doutores que acabaram de defender suas dissertações ou teses, as quais, como os seus demais estudos, também são vilmente compartilhadas por terceiros, os quais deveriam adotar como mandamento maior o respeito absoluto pelo empenho de seus alunos e a proteção e clara identificação dos verdadeiros autores dos achados que porventura constem das aludidas teses e dissertações.

Vergados a uma burocracia absolutamente apartada do autêntico espírito universitário e de qualquer compromisso com o alargamento e universalização do "saber pelo saber", tais pessoas, interessadas apenas em "construir" currículos formais com numerosos itens, não raro se unem com um alentado número de outros pretensos autores cujo contributo para a elaboração efetiva dos trabalhos em questão foi absolutamente nulo, todos a servirem-se da diligência de orientandos cuja autonomia vê-se manietada dada sua dependência com respeito a seus mestres.

Chega-se mesmo a encontrar, na deplorável Plataforma Lattes, casos em que apenas o mestrado e/ou o doutorado são atribuídos exclusivamente ao autor pesquisado, pois em todos os demais trabalhos arrolados no "documento" faz-se presente um abundante número de coautores. Como dizem os entendidos, o trabalho em equipe é uma das mais expressivas conquistas de nosso mundo acadêmico. Impõem-se aqui a conclusão de que os solitários e ensimesmados Meneghettis são próprios de um passado definitivamente superado, pois nos admiráveis dias correntes nos defrontamos com o flamante e superior ludíbrio organizado.

Outro efeito deletério da corrida desenfreada em busca do "sucesso" rapidamente alcançável é dado pelo privilégio emprestado à aceitação de alunos diretamente nos programas de doutoramento sem previamente haverem cumprido o curso de mestrado. Este último, como sabido, foi relegado a um deprimente segundo plano, vendo-se desprezado tanto por alunos como por instituições acadêmicas, em algumas das quais, praticamente, foram extintos. Certa vez ouvi de uma colega responsável por cursos de pós-graduação: "esqueça o mestrado, ele morreu"!

Ora, se das teses de doutorado espera-se uma contribuição científica original, do mestrado – sem deixar de lado a exigência de uma dissertação de qualidade – deve-se esperar, essencialmente, a formação de um novo pesquisador, apto a formular e desenvolver integralmente um trabalho de mais largo fôlego. Assim, se o produto final da tese é um trabalho original, o produto último da dissertação é o próprio pesquisador. "Queimar etapas" representa, a meu juízo, um imenso prejuízo imposto não só ao orientando mas, sobretudo, à academia e ao desenvolvimento harmonioso e seguro do pensamento científico.


NOTAS
1. A proposta de promover a tresloucada teatralização nem sequer foi original, pois baseou-se em fato verídico, qual seja a transmissão efetuada por um repórter que relatava, em 1937, a chegada à base de Lakehurst, em Nova Jersey, do dirigível Hindenburg, o qual, como sabido, incendiou-se; coube a esse repórter, descrever em tempo real o drama que se desenrolava ante seus olhos.
2. Sobre esta última questão escrevi uma crônica, divulgada na Internet, intitulada O plágio é apenas um detalhe.
3. A presença do orientador como garantidor da qualidade dos trabalhos realizados por seus orientandos poderia ser dada pela exigência de seu aval, em nota de rodapé, nos estudos e artigos elaborados por seus pupilos.
4. Evidentemente, não incluo neste rol os casos em que se dá uma correta e equilibrada conjugação de esforços de orientandos e seus respectivos orientadores.



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DEMOGRAFIA HISTÓRICA: ALGUMAS OBSERVAÇÕES

Para Tito, amigo inesquecível.
Iraci del Nero da Costa



1. Por uma definição de demografia histórica.

Ao propormos uma definição para a demografia histórica visamos, tão somente, a contribuir para o debate sobre o tema, estimulando, desta forma, a reflexão sobre o caráter que este ramo do conhecimento assumiu entre nós. Ademais, justamente por esperarmos que nossa proposição desperte críticas e suscite polêmicas, não nos deteremos em explicá-la ou justificá-la; vejamo-la.

A demografia histórica, que tem como objeto precípuo de estudo as populações humanas do período pré-censitário (o qual engloba os períodos pré e proto-estatísticos), é o campo da Ciência Social que, estabelecendo, in totum ou parcialmente, o estado e os movimentos daquelas populações, procura identificar as causas e consequências de tais fenômenos, bem como explicitar as inter-relações, destes, com outros elementos da vida em sociedade. Para tanto, lança mão, também, das técnicas e dos conhecimentos das demais ciências e desenvolve técnicas e modelos próprios, utilizando, além dos dados tradicionalmente considerados pela demografia, todas e quaisquer fontes que possam servir ao seu escopo. Presentes estas fontes e aquelas técnicas e modelos, a demografia histórica estende-se ao período censitário. Cumpre observar, ademais, que os resultados propiciados pela demografia histórica não se limitam ao campo estrito dos fenômenos tidos como puramente demográficos, pois também dizem respeito aos demais campos da Ciência Social.

2. Breves considerações sobre o conceito "demografia histórica".

Neste tópico, que não tem caráter exaustivo nem se pretende original, teço algumas considerações sobre o conteúdo da expressão "demografia histórica" a partir das características concretas que ela assumiu entre nós brasileiros e latino-americanos em geral.

Postulo, desde logo, que os dois termos dessa expressão – "demografia" e "histórica" – condicionam-se reciprocamente de sorte a exprimirem um todo orgânico, uno, que representa uma área delimitada do conhecimento da vida social. Atenhamo-nos, pois, ao relacionamento entre esses dois elementos ressonantes.

São duas as dimensões do "histórico" que qualificam o "demográfico". Assim, para estabelecermos o conhecimento do comportamento pretérito das variáveis demográficas é preciso, obviamente, determinar os valores que elas assumiram no passado. Ora, para fazê-lo nos vemos em face da necessidade de trabalharmos com técnicas especialmente desenhadas para levantar informações concernentes ao período pré-estatístico, vale dizer, temos de nos servir de fontes primárias não convencionais – quando pensadas em termos dos modernos levantamentos censitários – mediante as quais, indiretamente e depois de submetê-las a tratamento adequado, chega-se à determinação dos valores indispensáveis aos estudos demográficos. Como sabido, além das práticas que utilizamos como pesquisadores em nosso dia a dia, o método de reconstituição de famílias é exemplo palmar de técnica especificamente elaborada para o tratamento de fontes aparentemente limitadas. Impõe-se, ademais, já no terreno da demografia formal, o desenvolvimento ou o aproveitamento de técnicas e modelos estatísticos aptos a extrair informações estatisticamente significativas de material incompleto e/ou precário quando visto sob a ótica das técnicas estatísticas convencionalmente empregadas pelos demógrafos. Exemplos destes últimos procedimentos são dados no Manual X da ONU (Indirect techniques for demographic estimation) e, em escala modestíssima, pelos cálculos para datação de listas nominativas formulados por mim e por Nelson Nozoe. Uma segunda qualificação devida ao "histórico" está no fato de que não nos basta, aos demógrafos historiadores, o conhecimento do comportamento demográfico das populações pretéritas, pois, após estabelecê-lo, perguntamo-nos imediatamente: quais os condicionantes de tal comportamento, quais são suas causas e consequências? Ao procurarmos resposta para tal questionamento encontramo-nos, sabemo-lo à farta, no campo próprio do historiador; vemo-nos, assim, obrigados a buscar na história – bem como em outros departamentos da Ciência Social – os fatores capazes de explicar, além das determinações puramente biológicas, os resultados revelados pela análise quantitativa das evidências empíricas.

De outra parte, a "demografia" impõe-se à "história"; neste caso, como no anterior, é possível distinguir imediatamente duas dimensões do "demográfico" que sujeitam o "histórico", vejamo-las. Um primeiro condicionante é dado pelo fato de que nosso interesse precípuo está em determinar o estado e a dinâmica de nossas populações pretéritas, ou seja, votamos nossos esforços, primariamente, para o conhecimento do comportamento demográfico dos grupos e/ou segmentos sociais que conformaram nossa população. Tais elementos, puramente demográficos, aparecem, pois, na raiz de nossas preocupações e iluminam nosso campo de estudo. Destarte, não perguntamos, genericamente, pelo passado, interessa-nos, sim, um específico passado: o passado de nossa população, seu comportamento demográfico, sua formação no correr do tempo. Um segundo condicionante concerne à própria perspectiva segundo a qual miramos tal passado; ao fazê-lo, privilegiamos o comportamento demográfico por entendermos que ele exprime as vicissitudes de ordem econômica, política e social defrontadas pelas populações pretéritas. Ou seja, segundo pensamos, os fatos demográficos trazem impressos em si mesmos, além das resultantes de sua própria especificidade enquanto fenômeno biológico, os sucessos vivenciados pela comunidade humana da qual são expressão; permitimo-nos assim, em larga medida e repudiando todas as formas de automatismo absoluto e determinismos mecânicos, ver e entender a história de dada sociedade à luz do comportamento demográfico que ela revela no passar do tempo.

Como avançado, o conceito "demografia histórica" traz em si elementos que se condicionam mutuamente e que se definem como partes inter-relacionadas e solidárias de uma mesma totalidade. Fica visto, ademais, que a demografia histórica, por privilegiar determinados elementos, não esgota, enquanto ramo do conhecimento, a vida social, embora abarque uma larga fatia dela.

Dentre as perguntas suscitadas pelas afirmações acima postas ressaltam três, vejamo-las.

Todos os trabalhos de demografia histórica apresentam todos os predicados discriminados no corpo deste artigo? A resposta a tal questionamento é não; os trabalhos efetuados em nosso campo de especialização não têm de, necessariamente, cobrir toda a gama de problemas abarcados pela demografia histórica, podendo, no limite, restringir-se a apenas um aspecto histórico-demográfico, o estudo da nupcialidade em tal ou qual paróquia, por exemplo. O que importa, a meu juízo, é que o conjunto dos trabalhos desenvolvidos em nossa área cobre exaustivamente o terreno acima identificado.

Os demógrafos historiadores têm de ter consciência dos elementos aqui tratados? Evidentemente a resposta a tal pergunta é não; não só não é necessário que os pesquisadores tenham consciência absoluta das questões, processos e mesmo dos procedimentos e técnicas próprios de sua área, como, em alguns casos, pode ocorrer o fato de um estudioso desenvolver, inconscientemente, trabalhos muito relevantes para um dado ramo do conhecimento, a demografia histórica no nosso caso. Acolher no seio de nossos grupos de pesquisa e de debates o maior número possível dos que, direta ou indiretamente, conscientemente ou não, contribuem para o avanço da demografia histórica revelar-se-á, a meu juízo, muito proveitoso para todos nós.

Ademais, permanecerão áreas cinzentas em nosso campo de especialização? Sim, por mais refinada que seja a delimitação de nossa área de interesse, por mais sofisticada que seja a formação dos cientistas votados ao estudo da vida em sociedade sempre existirão zonas lindeiras "acinzentadas", fronteiras móveis, indefinidas, e, felizmente, espíritos irrequietos que não se amoldam docilmente a esquemas preestabelecidos.

3. A demografia histórica como capítulo da demografia e dimensão da história.

No item anterior, teci alguns comentários sobre o conteúdo da expressão demografia histórica a partir das características concretas que ela assumiu entre nós. Interessava-me, naquela oportunidade, explicitar como os dois termos da expressão – demografia e histórica – condicionam-se reciprocamente de sorte a exprimirem um todo orgânico, uno, que, evidentemente sem esgotar a realidade social, representa uma área bem delimitada do conhecimento da vida social. Ative-me, pois, ali, à discussão do relacionamento entre esses dois elementos ressonantes. Volto-me, agora, para outro aspecto da assim chamada demografia histórica, como querem alguns, ou história demográfica, como desejam outros – interessa-me a "filiação" deste ramo do conhecimento. É ele um apêndice da História? Representa uma projeção da Demografia sobre o passado? Ou se trata de um campo mais ou menos híbrido decorrente da reunião, conjugação ou "encontro" da Demografia com a História? Enfim, como enquadrá-lo no conjunto do saber científico? Vejamos, pois, minha opinião.

Em termos estritos (stricto sensu), a demografia define-se como o campo do conhecimento que, baseado em dados fornecidos por registros e recenseamentos e com aplicação de métodos e técnicas estatísticas, corresponde ao estudo quantitativo de populações humanas com vistas a identificar o estado (estrutura) e o movimento (dinâmica) de tais populações. Por outro lado, na medida em que se investigam as causas e consequências do estado e do movimento das populações introduz-se o elemento qualitativo, o qual complementa o estudo quantitativo com base na incorporação de conhecimentos hauridos nas demais ciências sociais. Esta dimensão qualitativa distingue a concepção mais larga (lato sensu) da demografia, a qual, pois, além do aludido núcleo quantitativo, apresenta um corpo "qualitativo" no qual estão presentes conhecimentos propiciados pelos demais campos da Ciência Social.

A demografia histórica, por seu turno, também traz implícitas estas duas dimensões. Em termos restritos implica o estudo quantitativo das populações do passado para as quais não dispomos de recenseamentos concebidos segundo as modernas técnicas de levantamento populacional. Os dados colhidos no passado ou gerados por técnicas hodiernas que se oferecem aos demógrafos historiadores referem-se, pois, aos períodos pré e proto-estatísticos. É a esta condição que se refere a qualificação "histórica" do termo "demografia histórica", não prendendo-se, portanto, tal qualificativo, a um "encontro" entre Demografia e História.
Segundo sua acepção mais ampla a demografia histórica compreende, também, a busca das causas e consequências da estrutura e da dinâmica das aludidas populações pretéritas. Ainda neste caso não estamos a pensar numa pretensa conjugação entre Demografia e História, pois se trata, efetivamente, da complementação do estudo quantitativo das populações do passado com base em conhecimentos fornecidos por todas as ciências sociais que se debruçam sobre o passado, dentre as quais, evidentemente, a História distingue-se com relevância capital.

A demografia histórica integra-se, pois, imediatamente, à Demografia representando um enriquecimento desta última na medida em que, do ponto de vista quantitativo, estende o conhecimento demográfico para os períodos pré e proto-censitários e na medida em que, do ponto de vista qualitativo, incorpora novos subsídios para o entendimento dos processos vivenciados pelas populações de períodos mais recentes.

Já com respeito à história e às demais ciências sociais, a demografia histórica vê-se mediatizada pela prioridade que empresta ao elemento populacional ou, em termos mais lassos: pela consideração preeminente que concede a uma ou mais variáveis populacionais. É-nos permitido concluir, portanto, que a demografia histórica é, a um tempo, parte integrante e orgânica da Demografia e uma das dimensões da História.

4. Demografia histórica ou história demográfica?

No tópico acima, opinei sobre a questão da "filiação" da demografia histórica, vale dizer, procurei responder à seguinte indagação: a que ciência(s) poder-se-ia vincular o campo de conhecimento compreendido pela "demografia histórica", como apraz a alguns, ou "história demográfica", como preferem outros? A argumentação ali expendida levou-me a concluir que a demografia histórica (ou história demográfica) é, concomitantemente, parte integrante e orgânica da Demografia e uma das dimensões da História. Tal conclusão leva-me, agora, a discorrer sobre as duas denominações que têm servido, no Brasil, para denotar o aludido campo e que vão indicadas acima: "demografia histórica" e "história demográfica".

Como sabemos, a denominação original, clássica e internacionalmente adotada para nossa área de conhecimento é a que lhe emprestaram seus fundadores: demografia histórica. Não obstante seu emprego corrente por todos os pesquisadores brasileiros, alguns deles sentiram-se incomodados com a preeminência que tal nome dá ao aspecto demográfico. Isto porque, no Brasil, verificam-se dois fatos dignos de nota. Consideremo-los, inda que em termos taquigráficos.

Lembre-se, em primeiro, que os estudos realizados em nossa área, até mesmo como decorrência da impossibilidade de empregarmos imediata e plenamente o método da reconstituição de famílias, marcaram-se desde seu nascedouro por apresentarem "muito de história" e "pouco de demografia"; referência esta devida à verificação de que nossos estudos, assim como a própria formação de nossos pesquisadores, ainda são relativamente pobres no que tange aos conhecimentos e técnicas propiciados pela demografia formal. Observe-se, em segundo, e caminhando na mesma direção do primeiro aspecto aventado acima, que ocorreu entre nós o assim chamado "transbordamento" temático, vale dizer, nossos trabalhos projetaram-se nos mais variados campos e problemáticas enfrentados pela História, indo muito além, portanto, do que se poderia esperar de estudos "estritamente" demográficos. Evidentemente, tal transbordamento – dos mais auspiciosos e estimulantes, diga-se desde logo – deveu-se, em larga medida, ao fato de ainda não contarmos com uma historiografia rica e diversificada como a dos Europeus; assim, contrariamente ao que se verifica aqui, contam eles com várias "versões" de sua história e os campos e temas pesquisados cobrem os mais distintos aspectos da vivência de seus povos no campo social, político, econômico etc. etc.

Destarte, como avançado, alguns demógrafos historiadores brasileiros procuraram uma denominação alternativa à clássica para designar mais fidedignamente o que se fez e se faz entre nós na área de estudos que abraçamos. A nova designação deveria mostrar-se, portanto, menos "impregnada" pela "demografia" e mais "embebida" de história de sorte a alcançar a pretendida fidedignidade. Escolhemos, pois, a denominação "história demográfica". Com tal designação pretendeu-se emprestar ao conceito uma acepção mais larga de sorte que ele também abarcasse o que poderíamos chamar de "estudos de população", "estudos populacionais" ou "estudos sobre a população", estudos estes que estariam menos comprometidos com a "demografia formal" e seus métodos. Alguns de nós chegamos mesmo a dizer: "Nossos estudos são mais de história demográfica do que de demografia histórica". Sinceramente, e na condição de um dos que adotaram tal terminologia, acho que tal escolha revela-se, a rigor, absolutamente inócua. E isto por duas razões, vejamo-las.

De um lado, como avançado, o campo coberto pela demografia é dos mais amplos e engloba, também, a própria demografia histórica a qual, por seu turno, não se limita à aplicação de um conjunto de técnicas matemáticas a dados concernentes ao passado, mas – como de resto a própria demografia tout court – lança indagações sobre as causas e consequências dos comportamentos estritamente demográficos por nós identificados. Assim, não há qualquer limitação que se possa impor ao uso da designação Demografia Histórica para exprimir em sua inteireza as pesquisas que desenvolvemos.

De outra parte, a denominação História Demográfica exprime a idéia de uma "história" que se quer "demográfica" estando, portanto, tão "comprometida" com a demografia, e a demografia formal em particular, como sua irmã gêmea "demografia histórica" com a qual, de fato, sinonimiza.

A meu ver, portanto, podemos identificar o campo de conhecimento em tela indiferentemente como Demografia Histórica ou como História Demográfica, pois tais denominações expressam as duas faces de um mesmo objeto. Assim, se o chamarmos Demografia Histórica estaremos a realçar o fato de ele definir-se como parte integrante da Demografia; por outro lado, se o denominarmos História Demográfica estaremos emprestando ênfase a sua outra face, qual seja a de ser uma das dimensões da História.

5. História Demográfica: uma breve visão de seu evolver.

A análise demográfica e os estudos populacionais foram amplamente impulsionados depois da segunda grande guerra mundial; este desenvolvimento relativamente recente deve-se a vários fatores.

Em primeiro lugar, ao avanço e universalização das técnicas e métodos de medida; primeiro no que diz respeito ao instrumental teórico – desenvolvimento da demografia pura ou formal – e, também, com o aperfeiçoamento tecnológico ligado à computação.

A tais elementos devemos somar o crescente interesse dos cientistas sociais pela construção de modelos explicativos matemáticos inspirados nos das ciências físicas.

Há ainda a considerar os problemas advindos da emergência do terceiro mundo; característica dos países subdesenvolvidos, a explosão demográfica, levou os estudos populacionais para o centro das preocupações dos estudiosos do crescimento econômico. Igual relevância foi dada ao processo de "envelhecimento" das populações dos países mais desenvolvidos. Paradoxalmente, defrontam-se estes últimos com situação oposta àquela dos países subdesenvolvidos. Em artigo recente, publicado na revista francesa Le Point, podemos ler: "... a realidade é que estão nascendo cada vez menos crianças... e não se trata de uma atitude isolada, mas de um comportamento global que se verifica tanto em Los Angeles quanto em Vladivostock; de um lado, a população mundial cresce sem parar. Mas, ao mesmo tempo, a participação dos países desenvolvidos decresce gradualmente: 28,6% em 1912, 23% em 1940, 19,4% em 1950, 15,7% em 1960 e apenas 12% em 1973. A França tem hoje mais de 52 milhões de habitantes mas se nada puder ser mudado, os especialistas calculam que não totalizará mais de 45 milhões daqui a 50 anos e cerca de 17 milhões dentro de 125 anos. E o mesmo vai acontecer em outros paises europeus, na Austrália, nos EUA e no Canadá." (1)

Por fim, não se pode esquecer a ação governamental, cada vez mais ampla, no sentido de planejar o crescimento econômico e orientar a atividade produtiva de forma a evitar as tensões sociais decorrentes do desemprego e das crises de super-produção. A política econômica supõe prévia avaliação do material humano destinado a implementá-la; política de investimento supõe política de mão de obra e, esta última, conhecimento da população e política populacional. A política social deve necessariamente adaptar-se à estrutura populacional e à evolução prevista desta estrutura.

Destarte, o desenvolvimento de novas técnicas e métodos de análise para o tratamento dos dados e resultados aparece como resposta aos problemas cruciais colocados pela história recente da humanidade. Neste quadro cabe à demografia novo papel; aparece como entroncamento de várias ciências e não como ramo especial, como preocupação constante e não como anexo secundário e distinto do conjunto das ciências humanas.

O desenvolvimento da demografia histórica ocorre no âmbito desse quadro geral. Na década dos 40 do século passado surge ainda como ramo da história; em 1945 Adolphe Landry dizia existir uma demografia histórica que fazia parte da história geral como a história política, a história militar etc. Em 1950 Marcel Reinhard verificava o hiato existente entre História e Demografia ao afirmar que as obras clássicas de História e Demografia apresentavam a curiosa particularidade de se ignorarem mutuamente. No entanto, graças aos esforços de historiadores e demógrafos historiadores franceses, seguidos por outros estudiosos europeus, estreitaram-se os laços entre história e demografia, ao ponto de podermos hoje repetir com M. Reinhard: "a demografia é mais que informação complementar ... ela. é uma dimensão da história". (2)

Um grande esforço de elaboração teórica e de pesquisa sobre fontes de dados e métodos de trabalho foi exigido para que a demografia histórica pudesse aparecer como disciplina madura. Foi preciso romper, antes de mais nada, com o que Fernand Braudel chamou de "explicação imperialista, unilateral, da realidade social". Exemplo da atitude exclusivista – típica das "ciências jovens" – pode ser colhido na obra de Ernest Wagemann, economista e demógrafo. Para este autor a população comanda a economia e, por decorrência, a demografia comanda a história econômica. Afirma E. Wagemann: "Uma das teses preferidas da economia política de vulgarização, é que o crescimento populacional moderno deve ser atribuído ao sucesso do capitalismo em rápida expansão. Sem dúvida, aqueles que sustentam o contrário -- diz o autor -- têm mais razão ainda, ou seja, que os progressos técnicos e econômicos dos séculos XIX e XX devem ser atribuídos ao rápido aumento populacional." (3)

Tal concepção, como bem lembra F. Braudel, não é peculiar aos demógrafos: "O economista – afirma este autor – distingue as estruturas econômicas e toma como dadas as estruturas não econômicas que as rodeiam, suportam e compelem... ao fazê-lo o economista reconstruiu o quebra-cabeças à sua maneira. O demógrafo opera da mesma forma, pretendendo tudo controlar e até alcançar explicações graças unicamente a seus critérios. Possui seus próprios testes operacionais, habituais, e eles hão de bastar para captar ao homem em sua totalidade", e, concluindo, afirma: "toda ciência social é imperialista até mesmo quando nega sê-lo; tende a apresentar suas conclusões particulares como se fora uma visão global do homem." (4)

Como fica evidenciado, o exclusivismo de cada ciência social não está no simples fato de pretender cada uma delas, como central, ser englobadora das demais; revela-se quando, mesmo reconhecendo-se como parte do todo que a supera, uma específica ciência social, dentro dos seus quadros conceituais e tão somente em seus limites, pretende nos oferecer uma visão global do homem, ou, o que é pior, pretende que o particular objeto de seu estudo possa explicar-se inteiramente nos estreitos limites de seu quadro conceitual próprio.

A nosso ver, romper com o "imperialismo" é reconhecer que o homem se nos apresenta como um ente polifacético; que os seus móveis têm raízes distintas, por vezes conflitantes; abarcá-lo, significa aceitar suas mil formas, a maioria das quais foge ao singular quadro conceitual de nossas particulares ciências. Romper com a visão estreita que denunciamos, significa aceitar as explicações oferecidas pelas várias ciências para o mesmo objeto, como elementos complementares e não mutuamente exclusivos.

Pode-se afirmar que a própria existência da demografia histórica, enquanto disciplina, é prova da possibilidade de superação de visões restritivas. Como os demais estudiosos da sociedade, reconhecem os demógrafos historiadores, a verdade das palavras de Kingsley Davis: "A fertilidade, a mortalidade e as migrações são em grande parte determinadas socialmente e são, por sua vez, determinantes sociais. Elas são as variáveis internas ou formais do sistema demográfico enquanto que, as variáveis externas ou últimas são sociológicas e biológicas. Sempre que o demógrafo aprofunda suas investigações até o ponto de perguntar-se por que os processos demográficos se desenvolvem da forma como o fazem, penetra no campo do social." (5)

Tomemos dois exemplos do que acabamos de afirmar. O primeiro trata da interdependência entre os fenômenos econômicos e demográficos em suas linhas mais gerais; no segundo pretendemos ilustrar a complexidade das relações entre os fatos econômicos, biológicos e institucionais, tomando um problema específico, qual seja, o tempo de atividade produtiva do homem.

Tem-se repetido várias vezes que os três tipos básicos de organização econômica – caça, agricultura e indústria – são acompanhados por três correspondentes variações dos níveis econômicos e demográficos em que as sociedades humanas se movem. Sem privilegiar qualquer dos dois elementos pode-se mostrar, dentro de limites amplos e destituídos de determinismo fatalista, como o econômico e o demográfico apresentam-se solidários em cada uma das grandes etapas em que se pode dividir a história humana.

A separar cada fase aparece profunda ruptura da história da humanidade: a revolução agrícola do oitavo milênio a. C. e a Revolução Industrial do século XVIII. Segundo Carlo Cipolla tais eventos criaram profundas quebras na continuidade do processo histórico. Em cada uma destas Revoluções começa nova história; dramática e completamente alheia à que a precedeu. Quebrou-se a continuidade entre o homem das cavernas e os construtores das pirâmides, tal como se quebrou entre o antigo lavrador e o moderno operador de uma central elétrica. (6)

Ao período da caça e coleta, de extrema dependência das condições ecológicas (clima, abundância ou escassez de caça e/ou frutos silvestres etc.), correspondia uma densidade demográfica baixa com amplas variações no espaço e no tempo. Os elevados índices de natalidade e de mortalidade viam-se acompanhados por curta duração da vida média.

Seria interessante e elucidativo tomarmos exemplos numéricos referentes à evolução populacional do Brasil; o que infelizmente não nos é possível fazer dado o fato de estar a demografia histórica, no Brasil, ainda em seu nascedouro.

Pela análise de 187 europeus do grupo Neanderthal verificou-se que mais de um terço morreu antes de atingir a idade de vinte anos e a maior parte dos outros morreu entre a idade dos vinte e quarenta anos. Para além deste limite só se encontraram 16 indivíduos, a maior parte dos quais morreu entre os quarenta e os cinquenta anos. O estudo de 38 indivíduos pertencentes ao grupo Sinanthropus asiático (muito anteriores ao do Neanderthal) confirmou substancialmente os resultados acima apontados. Dos 38 foi possível calcular, para 22, a idade provável ao morrerem; destes, 15 morreram com menos de catorze anos, 3 morreram entre os quinze e os vinte e nove, 3 entre os quarenta e cinquenta e somente 1 parece ter sobrevivido para além dos cinquenta. Observe-se, trata-se tão somente de restos de adultos que chegaram até nós dos tempos paleolíticos.

Nas sociedades agrícolas predominaram altos índices de natalidade e mortalidade – 35 a 50 por mil para nascimentos, 30 a 40 por mil para óbitos. A prevalecer estes índices teríamos um crescimento anual de 0,5 a 1,0%, bastante significativo e que nos legaria um "estoque" populacional enorme; tal não aconteceu porque, no decorrer da história demográfica das sociedades agrícolas, os índices de mortalidade revelaram notável tendência para atingir, frequentemente, níveis dramáticos de 150, 300 e até 500 por mil. Em certas ocasiões estes níveis coincidiram com guerras, mas, com muito mais frequência, resultaram de epidemias e de fomes que aniquilaram grande parte da população existente. De mil recém-nascidos, 200 a 500 morriam, como norma, ao primeiro ano de vida. Muitos dos que sobreviviam não lograram transpor os sete anos. A esperança de vida, ao nascer, colocava-se entre os vinte e vinte e cinco anos. Os que conseguiam alcançar a idade dos cinco anos tinham baixa probabilidade de sobreviver para além dos cinquenta.

A Revolução Industrial – acompanhada pela segunda revolução demográfica – vai provocar nova mudança drástica no quadro geral. Desaparecem as explosões recorrentes do índice de mortalidade. Novos conhecimentos das plantas e do gado – acompanhados de novas técnicas de plantio e pastoreio – melhoria nos transportes, progressos na medicina e na profilaxia sanitária, tudo isto contribuiu para permitir ao homem debelar as fomes e as doenças epidêmicas.

A revolução industrial, causa e consequência das revoluções agrícola e demográfica, também apresentou certos ganhos no que Alfred Sauvy chama de "morte natural", isto é, no índice de mortalidade em tempos normais. Os progressos da medicina, a melhor nutrição, os mais altos níveis de renda eliminaram praticamente muitas doenças e reduziram a incidência de outras. O índice de mortalidade "normal" foi reduzido e nas sociedades industriais tende a ser inferior a 15 por mil.

O mais importante componente na queda do índice de mortalidade tem sido, geralmente, a drástica redução da mortalidade infantil. Hoje, nas sociedades industriais, a mortalidade infantil mostra-se inferior a 10 óbitos por mil nascimentos. Nestas sociedades a expectativa de vida ao nascer tende para mais de setenta e cinco anos. Por outro lado há a tendência generalizada de cair a taxa de natalidade – em sociedades industriais essa taxa tende a ser inferior a 15 por mil habitantes.

Nos países subdesenvolvidos ocorreu fenômeno sui generis. Na Europa a medicina evoluiu lentamente e o crescimento da população manteve-se, por consequência, gradual. Nos países não desenvolvidos o saber acumulado de dois séculos pôde imediatamente entrar em ação e, por conseguinte, as taxas de mortalidade caíram muito mais depressa do que jamais sucedera na Europa Ocidental. No Ceilão, para citar um caso extremo mas elucidativo, a malária foi eliminada pelo DDT e a taxa de mortalidade decresceu de 22 para 12 por mil em sete anos – entre 1945 e 1952 (depois das primeiras nebulizações de DDT a taxa de mortalidade desceu de 20 para 14 por mil num único ano, 1946-47) – quebra na taxa de mortalidade que levou setenta anos para se consumar na Inglaterra. Nas Maurícias a queda de 27 para 15 mortes por mil, efetuada em cem anos na Inglaterra, realizou-se também em apenas sete anos. Esta súbita baixa na taxa de mortalidade, combinada com o fato de que alguns países subdesenvolvidos não se encontravam preparados para as mudanças culturais características da Revolução Industrial clássica – em especial no referente ao controle dos nascimentos – causou aumento dramático do "fosso demográfico". Tomemos de novo o Ceilão como exemplo, o brusco declínio da mortalidade não foi acompanhado por quedas dignas de apreço na natalidade que se manteve acima dos 40 por mil. Com uma taxa de natalidade "agrícola" e uma taxa de mortalidade "industrial", a explosão demográfica tendeu a assumir níveis alarmantes.

Voltemo-nos para o segundo exemplo. Ao colocar o homem como um dos elementos fundamentais do processo produtivo, a história econômica está interessada não só no número total de indivíduos mas, sobretudo, no conhecimento da estrutura demográfica populacional. De grande interesse, entre outros, estão os dados referentes à partição segundo os sexos e faixas etárias; esperança de vida e período médio da atividade produtiva; tamanho das famílias e causa das mortes.

Tais fenômenos demográficos são condicionados por fatores biológicos e sociais. Tomemos como ilustração a atividade produtiva dos indivíduos.

O homem deixa a atividade produtiva quando o debilitamento de suas capacidades físicas já não lhe permite exercer sua profissão. Mas este abandono pode ser parcial através da passagem a misteres que requeiram menor esforço físico. Nas sociedades primitivas uma série de trabalhos indispensáveis e de fácil consecução eram realizados pelos mais idosos, o mesmo sucedendo em sociedades agrárias tradicionais.

O limite no qual a capacidade física humana começa a revelar-se insuficiente para a execução de atividade produtiva fundamental depende, de um lado do estado biológico da sociedade e do indivíduo, e, por outro, do caráter do trabalho executado. Em consequência, este limite tendia a ser mais baixo nas sociedades de caçadores que nas agrárias e mais baixo na agricultura, comparada com alguns ofícios artesanais.

Tenhamos presente a existência de instituições econômicas, jurídicas, religiosas etc., operando no sentido de limitar o número de dias trabalhados por ano e as horas trabalhadas por dia. Como se vê, a atividade produtiva dos homens resulta da interação entre fatores sociobiológicos e socioinstitucionais. Os fatores sócio-biológicos são antes de tudo a resistência do organismo humano às enfermidades e as possibilidades sociais de luta contra as doenças. Os fatores socioinstitucionais são bastante mais complexos. Tomemos como ilustração os feriados religiosos.

Como é sabido, na Idade Média os dias considerados festivos contavam-se em grande número e sua observância apresentava-se rigorosa. Os feriados assumiam caráter religioso e econômico. Nas condições do monopólio corporativo, entre os meios de evitar a concorrência no âmbito de diferentes mestres do mesmo grêmio estava a estrita regulamentação do tempo de trabalho; assim o monopólio corporativo, interessado no controle do volume da produção, apresentava interesse concorde com o das instituições religiosas no que respeitava à observância das festas religiosas. Já no Renascimento vemos a Reforma a lutar contra o culto dos santos; período no qual as empresas, fora do âmbito dos grêmios, necessitavam força de trabalho abundante para intensificar a produção.

Conclui-se do acima posto que a compreensão dos fatos demográficos ganha clareza apenas quando os integramos no quadro global das sociedades estudadas. Por outro lado, parece evidente a importância do estudo demográfico para o melhor entendimento da história da humanidade. Neste contexto entendemos as palavras de M. Reinhard: "a demografia é mais que informação complementar... ela é uma dimensão da historia."

Quando nos debruçamos sobre o evolver populacional do Brasil é forçoso ter presente não tratarmos de simples repetição dos processos verificados na Europa ou nos países mais desenvolvidos.

A expansão colonialista, o relacionamento colônia-metrópole e a dependência com respeito aos centros hegemônicos internacionais são fatores que tiveram e ainda apresentam consequências demográficas variadas e profundas.

Para nosso período colonial é da maior relevância a existência da economia de exportação – cuja rentabilidade se condicionava pelos preços internacionais – ao lado da de subsistência. Considerada a oferta elástica de terra e a relativa facilidade com que se podia realocar a mão de obra escrava da atividade exportadora para a de subsistência, vê-se como os freios malthusianos ao crescimento vegetativo da população jamais assumiram papel altamente significativo no Brasil.

Por outro lado, as respostas da oferta de gêneros de primeira necessidade podiam ser afetadas pelas condições do mercado e dos preços internacionais para os produtos exportados. Fato a exercer papel fundamental na alocação da força de trabalho, dos recursos produtivos e, sobretudo, nos processos de dispersão e convergência populacionais, influindo decisivamente nos movimentos migratórios internos.

A articulação da economia colonial na economia européia vai, igualmente, condicionar os fluxos imigratórios; tanto de reinóis como da escravaria negra trazida da África.
Outro problema relevante é a existência, para o período colonial, de segmentos populacionais – homens livres, forros e escravos – que apresentaram dinâmica específica. Tais corpos populacionais, distintos dos prevalecentes na Europa, comportaram-se relativamente aos parâmetros demográficos, como grupos distintos.

A compreensão dos processos demográficos brasileiros está a exigir dos estudiosos, não só esforço dirigido no sentido de coleta de dados, mas, igualmente, no de elaboração teórica capaz de integrar tais movimentos em quadro sociológico, histórico, econômico e demográfico original.

Esta é a grande tarefa da demografia histórica brasileira.


NOTAS

(1) O Estado de São Paulo, 15 de Julho de 1975.
(2) Reinhard (M.), Histoire et Démographie, Paris, 1950.
(3) Wagemann (E.), La población en el Destino de los Pueblos, Santiago, 1949.
(4) Braudel (F.), La História y las Ciencias Sociales, Madrid, 1970.
(5) Davis (K.), Human Society, New York, 1949.
(6) Cipolla (Carlo M.), The Economic Hístory of World Population, Penguin Books, 1972.



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