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HEGEL: LEITURAS ALTERNATIVAS

Iraci del Nero da Costa

Neste breve escrito ofereço leituras alternativas para dois temas centrais do pensamento de G. W. F. Hegel. Por um lado, considero as possíveis relações entre Matéria e Razão, por outro, contemplo o relacionamento entre Ser e Conhecer. Apresento um texto condensado e simples cuja intenção básica é meramente didática.


1. MATÉRIA E RAZÃO.

Nós nos encontramos em face de duas posturas ou soluções  alternativas.

1a. Com base em nossa consciência, que a reconhece e chega a conhecê-la mediante o estudo da necessidade, a matéria (que não tem em si nenhum elemento de consciência) chega a tomar conhecimento de sua própria existência. Temos pois: matéria –> consciência tomando conhecimento da necessidade –> a matéria se reconhecendo (com base na consciência) como existente. Neste caso a consciência não se confunde com a matéria, pois representa tão somente a expressão da matéria. Aqui o ser é a matéria, e a razão (consciência) é apenas sua expressão na mente humana. A matéria precede a razão (enquanto consciência), mas é inteiramente regida por leis racionais, e justamente por isso a consciência pode chegar a reconhecer a matéria como o ser. Se optarmos por esta forma de ver o mundo podemos ler  Hegel como se ele fosse um materialista. 
1b. Com base na consciência e nos seus movimentos que vão da aparência à essência, a razão (que num primeiro momento só domina a aparência) chega, com base na crítica dos movimentos (momentos) da consciência, a reconhecer-se como o ser absoluto (vale dizer, absolutamente indeterminado, ou absolutamente determinado por si mesmo). Em outros termos: a razão, criticando os momentos da consciência, se reconhece como a única entidade existente (se reconhece como o ser). Se optarmos por esta forma de pensar o mundo temos de ler Hegel como um idealista, e neste caso estaremos mais próximos do que Hegel pensava de sua própria filosofia. Mas, como anotado abaixo, Hegel "enganou-se" sobre os fundamentos de sua filosofia, a qual, no entanto, pode ser tomada como básica para entendermos o movimento do pensamento (do saber, ou do espírito, se quisermos usar termos paralelos).
 

2. IDENTIDADE ENTRE O SER E O CONHECER.

Para Hegel, o ser é a razão, pois foi a ela que ele chegou observando o que se coloca à nossa volta.
Há duas maneiras de interpretar tal afirmação de Hegel.
2a. Uma idealista, o ser confunde-se com o saber, assim, o subjetivo (saber) iguala-se "ao que haveria fora da consciência" (ser, ou razão); a matéria se esvai e só resta o espírito. Esta é uma maneira de interpretar a afirmação de Hegel segundo a qual o saber se identifica com o ser.
2b. A outra maneira supõe que o ser não se iguala à razão, mas esta última é a expressão, em nosso pensamento, do ser. Nesse sentido o ser não se confunde com o que "existe materialmente", mas o que existe materialmente é "regido" pela razão, não pode fugir à "razão", daí, para Hegel, a razão definir-se como o "ser". Poderíamos dizer que Hegel não considerou que para ser possível chegar-se homem pensante, o universo material que o contém teria de ser estável de sorte a propiciar, com o passar do tempo, a emergência de uma entidade capaz de pensar. Ora, um universo estável tem de estar sujeito a leis rígidas (caso contrário, tornar-se-ia instável, presa do aleatório); destarte, tem de se submeter ao que podemos chamar de lógica estrita, ou razão. Ele viu a "razão" que rege o material e a tomou como o "ser", não percebendo que a matéria é "racional", não podendo ser "substituída" pela razão, a qual, efetivamente, pode ser confundida com o saber. Ademais, pode-se dizer que a "razão" deriva de leis de caráter material (leis que se assentam no material); assim, tais leis (que em conjunto podem ser tomadas como a razão) são uma expressão do material, mas não se confunde (não se iguala) ao material. 
Esta segunda interpretação nos permite ler Hegel como um materialista e não como um idealista (o que, tudo indica, pretendeu ser).
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