NOTA SOBRE O LAMENTÁVEL ESTADO DO
ENSINO BÁSICO NO BRASIL
Para Tito, amigo
dileto.
Iraci del Nero da
Costa
Os dirigentes do penúltimo governo
ditatorial brasileiro do século passado –
Governo Geisel, 1974-1979 – tomaram como perenes as conjunturas interna
e mundial então vigentes as quais se mostravam plenamente favoráveis ao
crescimento econômico do país. Achavam, pois, que o desenvolvimento na nação
não conheceria solução de continuidade e dar-se-ia, irreversivelmente, segundo
taxas elevadas: abriam-se, enfim, as portas para a afirmação de um Brasil
Potência. Calcados em tal perspectiva resolveram generalizar alguns serviços
públicos até então restritos a parcela relativamente modesta da população
nacional.
Nesse quadro, ao qual se seguiram
vários lustros de profunda crise econômica, deu-se a universalização dos
serviços de saúde, de segurança bem como do ensino de primeiro e segundo graus
– correspondentes nos dias correntes aos ensinos fundamental e médio. Tal
generalização, no entanto, além de ser largamente afetada pela aludida crise,
não foi acompanhada, na área do ensino, de uma política consistente de formação
e valorização do professorado. Ademais, faltou, igualmente, a preocupação com a
instituição de uma política salarial digna e estimulante assim como a
implantação de um programa visando ao estabelecimento de uma infraestrutura
apta a garantir aos professores os meios mais adequados e eficientes para a
transmissão do conhecimento. Ocorreu, também, a emergência de muitas
Universidades, Centros Universitários e Faculdades particulares cujo nível
deixa muito a desejar; incapazes, portanto de proporcionar a formação de
professores qualificados o bastante para desempenharem suas tarefas com um grau
aceitável de proficiência.
A consequência da conjugação de tais
fatores materializou-se na deterioração do ensino e na flagrante queda de
rendimento do alunato quando comparado com o desempenho dos alunos das escolas
públicas do meado do século passado, as quais, embora albergassem um número
relativamente pequeno de estudantes, mostravam-se as melhores do país e, em
termos genéricos, pudessem ser definidas como excelentes; como sabido, a
perspectiva imediata de seus alunos era a de prosseguir sua formação em uma das
faculdades ou universidades públicas ou privadas então existentes.
Ao panorama sombrio delineado acima
somou-se a pressão sobre os professores, os quais se viram obrigados a
ocupar-se com um número maior de alunos e de aulas.
Por fim, a aprofundar a crise aberta
na qual submergia nosso aprendizado, adotou-se, em larga escala, a prática da
progressão continuada, a qual só se revela eficiente caso se possa contar com
um professorado bem preparado, distinguido por condigna valorização salarial e
ao qual se propicie um apoio logístico, em termos físicos, humanos e didáticos,
capaz de dar sustentação a um ensino de alto nível.
Infelizmente, como sabido, não é este
o caso do Brasil; destarte, a implementação da progressão continuada revelou-se
uma verdadeira política de aprovação automática a qual, além de reforçar a
degeneração do ensino, ocasionou uma aguda piora do relacionamento entre alunos
e professores, vendo-se, estes últimos, desrespeitados e desafiados por uma
parcela substantiva de seus discípulos, os quais não os têm como adultos culturalmente
superiores, mas como profissionais desqualificados e derrotados econômica e
socialmente. Tal postura acarreta, continuamente, casos de confronto verbal e
físico entre alunos e seus mestres.
Por seu turno, as autoridades
responsáveis pelo ensino mostram-se omissas e inoperantes, como que
inteiramente dominadas pelo tamanho incomensurável dos problemas com os quais
se deparam.
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